segunda-feira, agosto 29, 2005

[ conto sem titulo ]

"Abriu a porta e entrou. Jogou as chaves em cima da mesa, o computador continuava ligado. Deixou-se cair sobre o sofá, do mesmo modo que se deixam cair os corpos já cansados da vida e de tudo que ela representa. A sala cheirava a cigarro, assim como os quartos, o banheiro e a cozinha. Apenas a sacada não exalava o forte odor de nicotina, já impregnado nos estofados, toalhas e cobertores do apartamento.
Achou melhor manter a televisão desligada. Queria pensar. Na verdade não conseguia parar de pensar, mesmo que quisesse. Tirou do bolso da camisa a foto dela e ficou a admira-la. Era bonita. Lembrou dos cabelos compridos, da boca macia que não cansava de beija-lo e dizer coisas que o faziam enlouquecer. Fechou os olhos, a cabeça pendeu para trás, num ato incontrolado. Ainda podia tê-la de volta. Podia tê-la mais uma vez, ao menos, antes de dizer a ela tudo que estava pensando.
Acendeu um cigarro e foi até a cozinha. A pia estava cheia de copos sujos, duas garrafas de vinho e muitas latas vazias de cerveja à volta. Lembrou-se do jantar, dos amigos e do que eles haviam lhe dito sobre ela. Queria deixa-la, mas não conseguia. Podia deixa-la, mas não sabia se queria. Não conseguia articular uma única frase para dizer a ela, sobre isso. O telefone tocou.
Pensou em deixar tocar, depois pensou em atender. Demorou-se um pouco até chegar onde estava o aparelho e este parou. Ficou com aquela curiosidade de saber quem estaria ligando e teve vontade de telefonar para todos os números na agenda e descobrir quem havia desistido de falar-lhe naquele instante. Andou até a janela, com o cigarro entre os dedos. Terminou de fumar e ficou observando as pessoas lá embaixo. Pareciam um bando de formigas apressadas, correndo contra um relógio que está sempre adiantado. No entanto, pareciam felizes e tranqüilas e ele lembrou-se que tinha uma decisão a tomar.
Ela novamente tomou sua mente. Pensou nos olhos, um verde fascinante, duas esmeraldas sempre tão brilhantes que o encantavam cada vez mais. Pensou no corpo nu, tantas vezes sobre a cama, arfando e gemendo entre seus braços. Pensou na respiração ofegante, na boca entreaberta, o cabelo emaranhado por suas mãos. Queria-a. Não poderia deixa-la. Não agora.
Olhou o relógio. Oito da noite. Poderia encontra-la as oito e meia. E não lhe diria nada. Melhor deixar pra depois. Queria aquela mulher na sua cama, hoje à noite. Depois decidiria se iria deixa-la ou não. Pegou a carteira e os cigarros. Iria traze-la de volta ao apartamento. Nem lembrou da bagunça, do cheiro ruim, da louça na pia. Queria busca-la, queria vê-la. Estava decidido, já. Faria isso. Caminhou até a porta e pensou nela, viu-a a entrando no apartamento como da ultima vez, indo até o quarto, chamando por ele. Era isso que queria hoje. Depois a dispensaria. Ou não. Pegou as chaves e saiu. A porta fechou atrás de si. "


Nao que eu goste desse conto, mas nao quero divagar hoje.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Interessante.. mas abre margem a divagações... :P
Afinal, ele vai ou não terminar com ela?? ;)

12:46 AM  
Anonymous Anônimo said...

[títulos, Natália, por favor...]

Sim, hoje eu resolvi entrar em todos os blogs do Conesul, ler, e não escrever nada de importante.

Não quero divagar também.

12:28 AM  

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